Dividindo as dúvidas e os conhecimentos

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Como não só médicos, mas outros profissionais de saúde estão envolvidos no tratamento dos pacientes portadores de HIV/AIDS, formalmente estão sendo convidados a participar das discussões, enviar casos e dúvidas. Para enviar um caso ou uma dúvida, clique no final de um caso, em comentário, mesmo que não seja diretamente relacionado a ele. Será visto pela adminstradora do blog e será publicado. Se não tiver uma identidade das listadas, publique como anônimo.

Ao publicar este blog minha intenção é criar uma rede de médicos que, por meio da discussão de casos clínicos, possam atender ainda melhor seus pacientes. As dúvidas também podem ser transformadas em situações hipotéticas sobre as quais poderemos debater. Todos os interessados são bem vindos.

30/05/10 Alteração nas postagens:
Ao criar o novo nome para o nosso blog, tive que passar todos os comentários do antigo para cá e por vezes errei, colei 2 vezes ou em lugar errado e tive que apagar. É por isso que está aparecendo que algumas postagens foram excluídas por mim. Pior: não consegui copiar os seguidores para este blog.
Desculpa, mas sou uma blogueira iniciante e errante.
Tânia

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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Caso 64- Homem, diabético, doença coronariana, falha virológica


Motivo da discussão:
Qual o melhor esquema antirretroviral de resgate para o caso, levando-se em consideração as comorbidades.

Primeiro Anti HIV + em Jan 2003
Jan 2003- TB ganglionar
Início TARV Jan/2003 AZT + 3TC + EFV
Diabético desde 1999
Tabagista: desde os 20 anos.
Uso de cocaína e maconha dos 27 aos 48 anos.
HPP: IAM 2002/ colocação de stent coronariano 2003
Comparecimento irregular as consultas médicas, tanto com o infectologista quanto com o cardiologista e endocrinologista. Sempre relatando usar regularmente a medicação.
Em supressão viral até março 2011. À seguir, deixou de fazer regularmente os exames e só em maio de 2005 fez outra rotina laboratorial.

23/05/12
HbAlc 6,8  G estimada 148  G 135  U 42  Creat 0,87
Col 142  HDL 27  LDL 90  Tg 124
TSH < 0,011  T4 livre 1,7
AntiTPO 65,7 ( até 34)
Anti tireoglobulina 11,7 (até 115)
25(OH) Vit D 27,4 ng/ml
CV HIV 4938 cópias/ml (3,69 log)
CD4 764/mm³- 32,9%   CD8 1247/mm³- - 53,7%
Microalbuminúria 19,60 mg/l
EAS D 1026  pH 6  Hem 9  Leuc 5

04/07/12
Genotipagem de HIV
Protease- sem mutações principais. Mutação secundária L10T
Mutações na TR D67N, M184V, T215T
NNRTI K103N , G190 A
Outros polimorfismos presentes.

Na última vez que foi avaliado pelo cardiologista este solicitou novo cateterismo cardíaco.




3 comentários:

  1. Paciente diabético, com doença coronariana. Sensível a TDF que poderá ser utilizado sem problemas no momento. É importante monitorar frequentemente a função renal. Já tem outros fatores de risco relacionados à maior risco de comprometimento renal. Tem M184V e, portanto, o 3TC pode entrar no esquema apenas para hipersusceptibilizar ao TDF e manter o vírus com fitness reduzido, mas não conta como droga ativa. Tem HIV sensível a todos os IP então o que acho importante na escolha é o IP que tem menor risco de aumentar seus riscos cardiovasculares e renais. LPV/r, ATV/r, SQV/r estão relacionados ao aumento do intervalo PR o que aumenta o risco de doença isquêmica, distúrbios de condução e cardiomiopatia. SQV/r mostrou, em estudo com voluntários sadios, prolongar o intervalo QT. ATV com ou sem RTV parece não relacionado a resistência insulínica, o que não ocorre com o LPV/r. No caso deste último, o distúrbio lipídico, principalmente a hipertrigliceridemia frequente, além de aumentar o risco cardiovascular, vai agravar o diabetes. Em termos de alterações lipídicas, o DRV/r, o ATV/r e o FPV/r (na dose 1400/100mg) são os mais favoráveis. O uso de qualquer IP concomitantemente com TDF pode aumentar o risco de nefrotoxicidade. No caso do ATV ainda há o risco de litíase que pode ser reduzido com o aumento da ingestão de líquidos. Pensando em durabiliade, e menor risco de complicações cardiovasculares, o IP que eu escolheria seria o DRV/r. Dentro do princípio que 3 drogas é melhor que duas eu escolheria fazer TDF+3TC + DRV/r + RAL.

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  2. Trata-se de um paciente de alto risco cardiovascular (somente o fato de ser diabético já o colocaria nesta estratificação, fora a questão do tabagismo e da própria história de IAM, o que é indiscutível).
    Concordo que o uso do TDF neste momento não traria maiores problemas a curto prazo, posto que a HBA1c está no alvo (< 7%)e a Cr sérica está ok, apesar da microalbuminúria.
    No entanto, por ser um paciente já com doença de base, com mais de 50 anos e com histórico de comparecimento irregular às consultas, eu deixaria o TDF de fora. Já foi composto um esquema 100% potente com DRV/r e RAL, então não vejo o porquê do TDF. Somado aos fatores de risco já expostos, existe uma probabilidade – eu diria moderada – deste paciente evoluir com aumento de Creatinina e piora da microalbuminuria com o uso de TDF, o que aumentaria mais ainda seu risco cardiovascular com a piora da função renal. Acho que é a mesma ponderação que vc fez para a escolha do IP com menor impacto cardiovascular... Minha sugestão seria fazer somente 3TC + DRV/r + RAL (1ª opção) ou então 3TC + FPV/r (1400/100 qd) + RAL (apesar das inúmeras discussões sobre a potencial interação negativa entre FPV e RAL, que ainda não ficaram bem esclarecidas).
    Quanto à questão da hipertrigliceridemia associada a alguns IPs, gostaria de ressaltar um ponto para contribuição: a hipertrigliceridemia isolada não mostrou-se claramente como fator de risco para aumento de risco CV. O problema é quando temos Tgl elevado e HDL baixo, o que faz com que a LDL se torne menor e mais densa, com maior poder aterogênico. O Tgl isoladamente elevado hoje tem-se mostrado nos estudos (em paciente anti-HIV negativos) como maior fator de risco para DM do que para doença coronariana (recomenda-se sempre pesquisar intolerância à glicose/resist. Insulínica, o que não é o caso para este paciente que já tem diagnóstico).
    Uma coisa que a gente faz pouco e já está recomendado nos guidelines é avaliar o risco CV pelo cálculo do Colesterol não-HDL (Colesterol total – HDL), ao invés de olhar para o LDL sozinho. O colesterol não-HDL inclui outras frações além do LDL (VLDL, IDL), que também têm seu papel na aterogênese. Como regra, o ideal de Colesterol não-HDL é sempre o valor de meta do LDL para a categoria em que o paciente se encontra + 30.
    Ex: Paciente de baixo risco CV (< 10%): LDL (160) + 30 = 190
    Paciente de risco intermed (10-20%): LDL (130) + 30 = 160
    Paciente de alto risco/diabéticos: LDL (100) + 30 = 130; opcional: LDL (70) + 30 = 100
    Este paciente tem um Colesterol não-HDL de 120 (90 + 30), o que estaria no alvo; o problema maior aí é o baixo HDL, que se associado a um aumento no Tgl poderia elevar seu risco. Daí, a escolha de um IP com menor impacto sobre os Tgl é bastante válida (lembrar que tabagismo e DM mal controlado também elevam Tgl). Gostaria de saber sobre as medicações concomitantes em uso: estatina, AAS/Clopidogrel, Metformina e hipoglicemiantes orais, IECA etc.

    Márcio Fernandes.

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  3. Bem, escrevi que eu faria AZT/3TC + ATA'r ou Fos'r; iniciaria quimio profilática secundaria p/ doença isquêmica (AAS 200 mg/d) e vasodilatador coronariano tipo isossorbida ou nitrato 20 mg-40 mg/d; pediria clearance de creatinina p/ avaliar necessidade de ajuste de dose de 3TC. O inscreveria num programa a-tabagismo e de exercicios leves regulares. Se obeso, tentaria diminuir o seu peso e quem sabe assim também seria corrigida a sua glicemia. Tem dosagem de insulina? Se não tiver sobrepeso nem hiperinsulinemia, eu faria um diabetostático oral, desde que sua função renal esteja normal.
    Maria Cristina Gama

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