Dividindo as dúvidas e os conhecimentos

Novidades no blog
Como não só médicos, mas outros profissionais de saúde estão envolvidos no tratamento dos pacientes portadores de HIV/AIDS, formalmente estão sendo convidados a participar das discussões, enviar casos e dúvidas. Para enviar um caso ou uma dúvida, clique no final de um caso, em comentário, mesmo que não seja diretamente relacionado a ele. Será visto pela adminstradora do blog e será publicado. Se não tiver uma identidade das listadas, publique como anônimo.

Ao publicar este blog minha intenção é criar uma rede de médicos que, por meio da discussão de casos clínicos, possam atender ainda melhor seus pacientes. As dúvidas também podem ser transformadas em situações hipotéticas sobre as quais poderemos debater. Todos os interessados são bem vindos.

30/05/10 Alteração nas postagens:
Ao criar o novo nome para o nosso blog, tive que passar todos os comentários do antigo para cá e por vezes errei, colei 2 vezes ou em lugar errado e tive que apagar. É por isso que está aparecendo que algumas postagens foram excluídas por mim. Pior: não consegui copiar os seguidores para este blog.
Desculpa, mas sou uma blogueira iniciante e errante.
Tânia

GRUPO, PODE HAVER UMA INCOMPATIBILIDADE DO BLOGGER COM INTERNET EXPLORER. CASO VOCÊ TENHA PROBLEMA PODE INSTALAR O FIREFOX OU O GOOGLE CHROME. LIMKS PARA INSTALAÇÃO: http://br.mozdev.org/download/ www.google.com/chrome/eula.html?hl=pt-BR

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Caso 59- masculino, 51 anos, falha virológica


Motivo da discussão:
Elaborar um esquema de resgate eficaz e adequado ao paciente

Homem, 51 anos.Natural de Minas Gerais. Sua profissão exige viagens frequentes.
Diagnóstico de infecção por SIDA em 1996. Abriu o diagnóstico com Pneumocistose.
Iniciado nesta época terapia anti-retroviral com AZT + ddI.
Permaneceu estável. Em Setembro de 1997, fazia uso de AZT+ddI+Ritonavir (RTV).
Apresentou neste período: colesterol total (CT) = 274; Triglicérides (TG) = 756 e HDL = 19
Em janeiro/1998, apresentava-se bem, em uso de AZT+ddI+SQV
CT= 174; TG = 131
03/09/1998 - CD4 = 74 celulas (14%). Trocado TARV por 3TC+d4T+SQV/r
29/12/1998 - CD4 =263 células (13%)
outubro/1999 - CD4 = 417 (18%) e Carga Viral (CV) = 6900 cópias.
Maio/2000 - CD4 = 418 (21%) CV = 20.000
Janeiro/2001 - CD4 = 425 e CV = 31.000 --> Trocado TARV para AZT/3TC+EFV
Junho/2001 - CD4 = 628 e CV = 52.000
Maio/2002 - CD4 = 242 --> Trocado TARV para ddI+d4T+NFV
Julho/2002 - CD4 = 534 e CV = 2.449
Dezembro/2002 - CD4 = 412 e CV = 16.911
Paciente apresenta sinais clínicos de lipodistrofia.
Abril/2004 - CT = 221; TG = 422; HDL = 26
Janeiro/2005 - CD4 = 333 e CV = 14.461 --> Trocado TARV para AZT/3TC + ATV/r
Abril/2005 - CD4 = 440 e CV = 9401. Em uso de Benzofibrato 400mg/dia
Março/2003 - CT = 210; TG = 111 HDL = 34
Maio/2007 - CD4 = 321 e CV = 37.596
Solicitado genotipagem em setembro/2007
41L, 67N, 69N, 70R, 74I, 75T, 118I, 184V, 215F, 219Q
101P
10F, 54M, 63P, 71T, 73C, 77I, 84V, 90M, 93L
Alterado TARV para 3TC+TDF+LPV/r+T20.   
Fevereiro/2008 - CD4 = 124 e CV = 8630
Após esta última avaliação o paciente trocou de serviço.
O médico assistente atual solicitou nova genotipagem.
O relatório desta última genotipagem informa:
TARV atual: 3TC+TDF+DRV/r+RAL - iniciada em 01/04/2009.
Mutações associadas ao ITRN: 41L, 67N, 69D, 70R, 75T, 118I, 184V, 208Y, 211K, 215F, 219Q
Mutações associadas ao ITRNN: 101P
Outros polimorfismos na TR: 43Q, 74I,98S/A, 102R, 135T, 178L, 200A/T, 218E, 228H
Mutações associadas aos IP: 10F, 13V, 16A, 32I, 33F, 34Q, 45R, 47V, 54M, 63P, 71T, 73C, 77I, 84V, 89V, 90M, 93L
Outros polimorfismos na Protease: 13I, 19I, 37N, 66V, 72T, 95F
Realizado Teste de Tropismo: O virus utiliza receptor CCR5
Ultimo CD4 realizada = 181; CV = 2997

4 comentários:

  1. Pelo algoritmo brasileiro não há alternativa sensível, apenas o TDF + 3Tc como intermediário. Seria interessante pedir a genotipagem da Integrase pra documentar o padrão de resistência ao RAL, para posterior uso do Dolutegravir. O problema aqui seria o MVQ como unica alternativa S... 3TC+TDF+DRV/r+MVQ??? E rezar para a câmara técnica liberar o MVQ praticamente por compaixão...

    ResponderExcluir
  2. Comentários:
    Homem, 51 anos, dislipidemia mista, viajante como profissão. Início de TARV – esquema duplo AZT + DDI -em 09/97- pneumocistose. Dislipidemia mista, principalmente as custas de TG. Jan 98- AZT + DDI + SQV. Set 98 com CD4 abaixo de 100 células. Esquema trocado para 3TC, d4T + SQV/r. Primeira CV em outubro 2009, em uso de 3TC, d4T, SQV/r- 6900 cp/ml CD4 417. Foi mantido com o mesmo esquema, em falha virológica até Jan 2001, quando trocou para AZT + 3TC + EFV.
    Pensando no caso até o momento- nesta altura provavelmente já tinha várias TAM e a 184V e, assim, deve ter ficado, em termos práticos com monoterapia com EFV. Deste modo, continuou em falha virológica e em maio de 2002, estava também em franca queda imunológica. Esquema trocado para DDI+ d4T+NFV. Não era para dar certo, pois já havia falhado com DDI, d4T e SQV. Em 2005, continuava, como esperado, em falha virológica e imunológica e o esquema foi trocado sem genotipagem, para AZT + 3TC + ATV/r. Não dava, novamente para esperar que respondesse. Primeira genotipagem em 2007
    Interpretação: elevado grau de resistência a todos os inibidores de transcriptase, com alguma atividade de TDF + 3TC. Resistência intermediária a ETV (não disponível na época) e resistência a EFV e NVP. Dos IP disponíveis na época, sensibilidade a LPV/r, ATV/r e intermediário a FPV/r. Resgate feito com 3TC+TDF+LPV/r+T20. Esperada boa resposta.
    Aí tem um lapso de informação. Não sei se a CV de 8630 cp/ml de fev/2008 foi antes ou quanto tempo depois do início dos novos ARV. De qualquer modo, ao fazer a última geno estava com estava com 3TC+TDF+DRV/r+RAL. Na TR não mudou, mas detonou os IP. Ao que tudo indica não toma corretamente os ARV. Viaja, tem horários imprevisíveis, dificuldade para armazenar em geladeira, talvez. Sem isso RTV e T20 não são possíveis. CD4 abaixo de 200- difícil poder aguardar novas drogas para resgate. Seria importante a geno de integrase e de T20 neste caso. Estas drogas seriam fundamentais para a composição de um novo esquema, desde que o paciente entendesse que de nada adianta iniciar um novo tratamento se não tem 100% de adesão. Minha sugestão agora seria fazer estas genos para vermos se pode usar MVQ + T20+ RAL + DRV/r. Não sei se o Estado de onde é este paciente compra ou não MVQ. Que eu saiba, somente SP e Ce o fazem (ainda bem para os pacientes destes locais). Aos demais pacientes do país resta as ações judiciais e a espera por tempo indeterminado pelo seu final. Será que aguenta? Como isso pode ser moroso, minha sugestão agora seria acrescentar ETV ao esquema. Se a geno de integrasse for demorar, talvez valesse a pena tirá-lo para tentar preservar opções futuras de inibidores de integrasse. Sinceramente, neste momento, nem pensei nas comorbidades. Precisa ficas vivo, mas gostaria de saber como está o rim deste senhor.
    Este caso é um daqueles nos quais fica bem claro que só ter bons medicamentos não é suficiente. O paciente precisa aderir. Para ter boa adesão é necessário que entendamos as suas necessidades também. É difícil até tomar um remédio de 8/8h por uma semana, o que dirá isso tudo, a vida toda, com geladeira no meio, necessidades dietéticas etc.
    Bem, Estou mandando pro e-mail do grupo a interpretação das duas genotipagens pelo algoritmo Brasileiro e Stanford. Mando também um ótimo artigo sobre acúmulo de mutações em esquemas falhados e e outros sobre efeitos das mutações de resistência ao RAL na integrasse (J Acquir Immune Defic Syndr. 2006 December 15; 43(5): 541–549./J Acquir Immune Defic Syndr. 2010 Oct;55(2):148-55./J Acquir Immune Defic Syndr. 2010 Aug;54(4):389-934).

    ResponderExcluir
  3. Este foi um caso bem complicado de um paciente com baixa adesão, tanto pela profissão, quanto pela dificuldade em entender a gravidade de sua doença. É interessante pois este paciente passou pelas várias fases da terapia antirretrorival. Terapia dupla, momentos de monoterapia quando só havia uma droga ativa, efeitos colaterais. Não adequação ao esquema proposto, pois o paciente não conseguiu fazer uso de T20 e disse que essa medicação ele não usa. Então como tentar compor um esquema antirretroviral?
    Não sabemos como está a integrase. Será que há resistência ao RAL? Seria conveniente fazer uma geno com novos alvos para RAL? Como não está em uso de T20 não é possivel avaliar mutações para esta droga.
    Outra questão que acho importante é avaliar se este paciente usaria IP ou não... A grande maioria dos MRG acreditam no uso de IP mesmo que estejam todos R a fim de tentar preservar as demais drogras que compõe o esquema ART. Mas será que também não haveria acumulo de toxicidade, visto tratar-se de um paciente com lipodistrofia?
    O detalhe é que este paciente ganhou por liminar o uso de Maraviroc, já que no Estado de MG não há câmara técnica formada e liberação de drogas alternativas.
    Assim como seria o seguinte esquema: ETV + RAL + MVQ? Com ou sem DRV/r?

    ResponderExcluir
  4. Rodrigo:
    Como disse no meu comentário, minha sugestão agora seria fazer estas genos para vermos se pode usar MVQ + T20+ RAL + DRV/r. Se a geno de integrasse for demorar, talvez valesse a pena tirar o RAL para tentar preservar opções futuras de inibidores de integrasse.
    Bj
    Tânia

    ResponderExcluir